Meu primeiro contato com a morte
- Maria Eduarda Santana
- 30 de jan. de 2016
- 2 min de leitura
Minha primeira vez com a morte, assim, cara a cara, foi olhando pra um cadáver logo na segunda semana de aula. Foram nos apresentandos vários cadáveres usados pela turma anterior nas atividades de dissecção. Sim, na minha universidade somos felizardos em ter todo semestre novos corpos para dissecarmos, nós mesmos com a ajuda dos professores dissecamos e usamos os corpos para o estudo.
Lembro-me das primeiras sensações dentro daquele anatômico frio, sombrio, velho (hoje em dia foi reformado, e acredito ser um dos melhores do Brasil): o que mais me incomodou de início foi o cheiro de formol. Logo em seguida foram os rostos dos cadáveres. Sim, eu sou meio louco e não conseguia deixar de olhar nos rostos daquelas pessoas. Quase sempre esboçavam tristeza, eram rostos sofridos, parecia que ainda sentiam dor. É estranho demais, mas aos poucos você se acostuma e vê o quão complexo e interessante é o corpo humano.
Você vai se tornando frequentador assíduo do anatômico. Na minha universidade, cada grupo de três estudantes podia levar pra casa durante umas senanas um saco de ossos. Bizarro mesmo! Mas era assim. Levei, mas levei bem incomodado. Olhava pra aquele saco cheio de ossos de gente, e me sentia estranho com aquilo ali no meu quarto. Mas essas coisas tenebrosas vão te acostumando. Aos poucos você esquece dos detalhes cabulosos que para outras pessoas seriam absurdos de se pensar.
Lembro-me que no segundo período, ao estudar para uma prova prática de anatomia dentro do anatômico em um horário fora do horário de aula, me peguei sozinho dentro daquela sala gigante repleta de mesas, com cerca de uns 15 corpos dissecados espalhados. Eu mais 15 cadáveres, todos com seus rostos únicos e sofridos, que eu sempre teimava em olhar antes de me concentrar nas suas outras partes... Parece cabuloso, mas são coisas que nós estudantes de medicina passamos.
-- Depoimento de Guilherme Wallace - (estudante de Medicina da UNIRIO e dono da página "Vou ser médico")
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