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Porque me encontrei em Medicina

  • Gabriela Bagano
  • 2 de dez. de 2015
  • 6 min de leitura

Eu sou Gabriela, tenho 18 anos e acabo de concluir o 3º semestre do curso de Medicina da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP). Hoje posso dizer que tenho a satisfação de ter me encontrado completamente no curso que escolhi, mas nem sempre tive a certeza de que ele era, de fato, o que eu queria. Vou compartilhar um pouco da minha história.


Sou filha de médico e, embora meu pai jamais tenha me pressionado a seguir sua profissão, desde cedo nutri o sonho de fazer Medicina. No entanto, percebi que aquilo havia se tornado um estigma na minha vida, algo que eu não mais contestava ou refletia, apenas me impunha. Resolvi, aos 16 anos, que precisava me permitir considerar todas as opções que eu pudesse. Sair da minha zona de conforto foi libertador, mas extremamente doloroso. Para uma amante por controle como eu, de repente, não ter certeza alguma mais me frustrou e abalou profundamente. Durante 1 ano, considerei vários outros cursos, como Direito e Relações Internacionais. Amante de idiomas, resolvi que eu queria fazer diplomacia.


Terminei o meu 2º ano do Ensino Médio e, em janeiro, recebi a notícia de que estava aprovada para Direito na UFMG. Dizem que só descobrimos o que realmente desejamos quando a moeda é lançada ao ar. Hoje eu sei o quanto de verdade há nisso. Por isso, não é surpresa dizer que eu não fui pra Minas. Hesitei e não abracei Direito. Resolvi ficar e cursar meu 3º ano, acalentada pela desculpa de que era muito nova.


Meu 1º semestre de 3º ano foi intenso. Tive de lidar com a pressão da concorrência dos vestibulares de Medicina e ainda me preparar para os de Direito, uma vez que ainda não havia firmado minha decisão. Passava vários turnos na escola durante a semana, fazia todas as aulas extras de Física, Matemática, Química, Literatura e Redação, simulados aos fins de semana e ainda estudava em casa, reservando apenas alguns momentos de lazer aos fins de semana. Foram meses exaustivos, mas eu sabia que seria necessário se eu quisesse alcançar minha meta. Nesse momento, foi de ajuda determinante o suporte dos amigos que compartilhavam comigo as maratonas de estudos. Fazíamos baterias de questões juntos, discutíamos dúvidas no WhatsApp. Resolvi inúmeros exercícios do Fundamentos da Matemática e do Tópicos de Física, bem como optava pelo Feltre para estudar Química. Para treinar, eu gostava de fazer as provas passadas do ENEM, Escola Bahiana de Medicina, FUVEST, GV e as listas do Projeto de Medicina.


No meio do meu 3º ano, resolvi fazer o vestibular da Escola Bahiana de Medicina como treineira, sem pretensão alguma de passar por ter consciência de que se tratava de um dos vestibulares mais concorridos da região. Não obstante, comecei a sonhar com a Bahiana não apenas por seu renome, mas por ter sido a escola que formou o meu pai médico, bem como por ter me encantado com a instituição durante a vivência do vestibular. Naquele momento, durante a vivência, tive uma epifania: era Medicina, de fato, o que eu queria pra minha vida.

Sei que o vestibular é uma montanha russa que testa os limites das nossas emoções, mas os altos fazem valer os baixos. O dia em que vi o meu nome na lista de aprovados no vestibular de Medicina de 2014.2 da Escola Bahiana de Medicina foi o momento mais feliz da minha vida. Naquele instante em que a moeda caiu e deu Medicina, não houve hesitação. Abracei o meu sonho e me entreguei a ele.


Entretanto, não foi fácil o início do processo de mudanças que se sucedeu. Aos 17 anos, saindo do meio de um 3º ano em uma escola na qual passei minha vida, com pessoas familiares e com minha família próxima, tive de deixar Feira de Santana, minha cidade no interior da Bahia, e me mudar para Salvador, a capital do estado. Comecei a morar sozinha e iniciei as aulas na faculdade em julho.


Uma das maiores críticas que os estudantes fazem ao ciclo básico de Medicina é a grande densidade de conteúdos e a falta de componentes curriculares que envolvam mais prática. De fato, em uma grade mais tradicional, só pegamos matérias mais práticas, como Semiologia, no 2º/3º ano de curso. As matérias que já peguei que, mesmo com aulas teóricas, já ofereciam alguma prática foram: Primeiros Socorros no 1º semestre, Saúde da Criança I neste semestre (na qual realizávamos apenas puericultura) e Saúde da Mulher I também neste semestre (consultas de pré-natal, em que atendíamos supervisionados). Mas, considero importante, de fato, a construção de um conhecimento teórico sólido antes de ir para a prática.


Algumas iniciativas são bem legais para contextualizar melhor toda a teoria sobre a qual nos debruçamos ao entrar no curso. Ir a simpósios, mesas redondas, jornadas e sessões abertas de temas referentes a áreas que já estudamos são formas de nos entusiasmarmos mais ao ver sua aplicação prática. Além disso, são oportunidades de consolidarmos o nosso tirocínio clínico, isto é, nossa capacidade de interpretar e fazer deduções isoladas sobre um caso clínico com base nos nossos conhecimentos de componentes básicos, como a Anatomia, a Fisiologia, a Histologia. O raciocínio clínico, por sua vez, seria uma habilidade mais desenvolvida, que adquirimos em estágio mais avançado do curso, e consiste na interpretação de um quadro de maneira integrada, sob a luz dos conhecimentos da clínica.


Além da grade curricular em si, uma das partes mais interessantes do curso de Medicina são as atividades extracurriculares. As monitorias são, particularmente, fortes na minha faculdade e seus processos seletivos envolvem prova teórica, entrevista e aula. Na transição do meu 1º para o meu 2º semestre, fui aprovada para a minha primeira monitoria, que tinha duração de 1 semestre: o Grupo de Ciências Morfofuncionais. No GCM, éramos 10 monitores que tínhamos encontros semanais com alunos do 1º semestre para discutir, por meio de slides, Anatomia Descritiva, Anatomia Aplicada e Histologia. Ao final do meu 2º semestre, fiz o processo seletivo da monitoria com a qual eu mais sonhava: a de Anatomia. Fui uma dos 8 aprovados para serem monitores do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Anatomia. O NEPA tem duração de 1 ano e meio, sendo que nesse primeiro ano nós damos aulas práticas de bancada com peças anatômicas e cadáveres, abordando para lunos do 1º semestre o assunto que os professores de Anatomia deram na aula prática. No 3º semestre da monitoria, integramos a extensão do núcleo que é o Núcleo de Ensino e Pesquisa em Anatomia Radiológica, o NEPAR, que visa uma abordagem antecipada, para alunos do 3º semestre, da Radiologia a partir dos conhecimentos da Anatomia.


Fazer parte do NEPA me proporcionou muitas oportunidades: aprofundar meu conhecimento de Anatomia, realizar estudo por meio de dissecação orientada em cadáver, maior contato com o acervo de peças anatômicas, curso de metodologia para avaliar e apresentar artigos corretamente, imersão por meio de sessões científicas semanais, organização da Jornada de Anatomia Médica da Bahia (JAMEB), organização do curso de Anatomia Procedimental na Mostra Científica e Cultura (MCC) da Bahiana, além de comparecermos ao Congresso Brasileiro de Educação Médica (COBEM), em novembro de 2015.


Independente das horas extras e da agregação curricular que uma monitoria proporciona, é interessante que o estudante escolha uma monitoria com a qual realmente se identifique, uma vez que demanda tempo e é uma oportunidade de se aprofundar numa área de maior interesse. Aplico a mesma lógica à escolha de ligas acadêmicas para ingressar. Agora, ao final do 3º semestre, estou começando a selecionar ligas em que tenho interesse, sendo a variedade grande: ligas de trauma, de clínica cirúrgica, de neurologia, de cardiologia, de oftalmologia, dentre outras. As ligas são interessantes, uma vez que também oferecem oportunidades de aprofundamento nas suas respectivas áreas por meio de sessões semanais com especialistas, vagas em estágios, realização de sessões abertas e cursos para a comunidade acadêmica.


Na faculdade, ainda temos a possibilidade de ingressar em grupos de pesquisa. No momento, faço parte de uma pesquisa sobre pós-operatório de cirurgia bariátrica de uma médica que está realizando mestrado na Bahiana. A iniciação científica é uma experiência proveitosa tanto pelo aprendizado metodológico e científico, como pela oportunidade, inclusive, de acharmos um tema interessante para desenvolvermos o nosso Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).


Finalmente, todas essas atividades são oportunidades de nos aprofundarmos em áreas com as quais nos identificamos mais e de, sob novas abordagens, despertarmos interesse por aquelas que não esperávamos mesmo após estudar na grade curricular. Sei que, certas horas, ficamos impacientes e, como é uma tendência forte entre estudantes de Medicina, tentamos nos especializar mais cedo do que o ideal no curso. Não obstante, devemos lembrar sempre que, antes de especialistas, precisamos nos formar médicos generalistas, o que denota a importância de estudarmos e aprendermos de fato o essencial das mais diversas áreas.


O fato é que, a cada semestre que passa eu me encontro mais onde estou. Cada pedaço, dimensão e nuance dessa área a que somos apresentados corroboram a minha certeza de que, de fato, fiz a escolha certa pra mim. De qualquer forma, a despeito de toda a exaustão e estresse que permeiam o curso de Medicina, o amor pela responsabilidade de ter vidas em nossas mãos no futuro fazem toda essa jornada - na qual ainda sou incipiente - valer a pena. Como disse Tomas, protagonista do livro “A Insustentável Leveza do Ser” de Milan Kundera, “I came to Medicine not by logic or calculation but by a deep inner desire”. E essa noção deve nortear qualquer decisão de qual área seguir - independente de ser pela Medicina.


-- Depoimento de Gabriela Bagano (estudante de Medicina da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública)

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