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Relações Internacionais, a bússola e a bagagem

  • Carolina Franco
  • 16 de jan. de 2016
  • 5 min de leitura


Bem… como contar uma história de uma garota que eu não conheço mais? Digamos que “era uma vez”, em 2011, uma garota que já tinha certa certeza do que queria fazer da vida (quase...): terminar a escola, fazer faculdade de Publicidade e Propaganda (talvez Psicologia depois, por curiosidade), trabalhar, casar, ter filhos e morrer. Sim, aquela fórmula da “felicidade”.


Como tudo na vida para chocar e perceber que sabia de nada, eu tive um revira-volta. Esse revira-volta trouxe a oportunidade de eu ganhar uma bolsa de estudos na Alemanha. Lá passei os melhores tempos da minha vida. Não apenas por ter tido a oportunidade de conhecer um país incrível e de conhecer pessoas maravilhosas, mas por eu ter tido a oportunidade de me conhecer – e este foi o melhor presente.


Eu não sabia ao certo o que esperar da viagem – talvez aprimorar a língua, conhecer mais pessoas, ouvir sobre outras culturas... Eu não esperava me renovar e colocar mais uma lente para a minha coleção de perspectivas do mundo. Ao voltar de viagem, eu estava com mais dúvidas e mais desconfortos. A minha casa não me satisfazia, o meu colégio ficou sem um propósito, minha vida deixou de ter perguntar sobre “quando?” e passou a ser sobre “onde?”. Eu sabia que não estava onde deveria estar. Eu sabia que Publicidade já não era mais para mim. Eu sabia que estar onde eu estava não era o suficiente. Eu decidi que não era Publicidade. Eu não sabia ao certo o que era – mas eu sabia que queria algo que me projetasse para além de mim. Para algo que me possibilitasse viver além daquela fórmula da “felicidade”.


Depois de muitas pesquisas e conversas com pessoas e uma mega autodescoberta, eu decidi: Relações Internacionais é minha área. No começo, as pessoas vinham: ‘Ah! O que você vai fazer na faculdade?’ e eu ‘Relações Internacionais’, e elas ‘Ah! Não sei o que é, mas deve ser chique’ – nem eu sabia ao certo o que era Relações Internacionais na época... Eu só sabia que era aquilo.


Meus pais nisso tudo...? Bem, digamos que no começo era: ‘WTF? O que é isso?’, ‘Tem trabalho para isso?’, ‘Você tem certeza?’ até a fase final de ‘Já que você tá certa disso...’. Eles sempre deixaram clara a minha responsabilidade em cima das minhas escolhas e das consequências delas. Isso, não quer dizer que eles não cortaram minhas asinhas, ou jogaram um balde de água fria quando minha vontade era dar um passo maior que a minha perna. Como na vez em que cheguei para eles dizendo que eu iria cursar RI em Londres – afinal, lá estava a London School of Economics, a famosa LSE: melhor universidade de Relações Internacionais do mundo. Apesar de eu ter percebido que esse pulo era algo maior que eu poderia dar no momento, a curiosidade e o sonho me trouxeram muitas coisas boas: falei com meio mundo de gente que eu nem sonhava em conhecer; entrei em milhões de sites, fiz mil pesquisas e conheci muito mais sobre o curso nesse período de daydreaming.


Ao perceber que Brasil era a minha realidade, eu precisava ampliar meu conhecimento local. Liguei para pessoas da área, mandei e-mails, pesquisei universidades e cidades (e todas que tinham a opção boa de tentar algo para fora do Brasil – afinal LSE ainda estava no meu baú de sonhos). Um segredo nessas horas de você correr atrás de algo que você queira é: não tenha vergonha. Pesquise. Pergunte. Ligue. Religue. Treligue, se for necessário. Isso faz você conhecer melhor sobre a área e faz você ter menos dúvida se aquilo é, realmente, o que você queira ou não.


No fim de todas minhas pesquisas, eu tinha três certezas: eu moraria longe dos meus pais; eu não faria a UnB; eu não queria me prender à universidade. E isso me levou a uma conclusão certeira: eu faria a PUC Minas. Eu já tinha passado uma vez em uma colocação muito boa, moraria em um Estado que já morei um tempo antes, ficaria perto de amigos. O que é melhor do que isso? É tão certo, não é mesmo?! Bem, digamos que nem tanto...


Nas aplicações do terceiro ano, eu havia organizado materiais específicos de algumas universidades e do ENEM para treinar nas horas livres. Porém, nesse estresse generalizado em que a qualquer menção de ENEM ou Vestibular fazia pessoas quererem se jogar de janelas, eu estava conversando com os meus pais sobre os locais que eu não aplicaria: USP (‘mas por quê? Não é a melhor universidade do país?’ – fala do meu pai. ‘Não em RI, além de eu não querer viver no estresse de São Paulo, pai.’); UnB (‘Ué, não é a melhor universidade do seu curso?’ – minha amiga. ‘É, mas eu não sei se quero diplomacia.’); e tantas outras que tinham alguns espantos e alguns acordos. Minha certeza era a PUC Minas, até meu pai sugerir a PUC Rio – dentre seus motivos, por ser onde a minha tia mora (maior segurança). Fiz o vestibular, não a contra vontade, mas fiz sem grandes expectativas de passar, ou até mesmo de como seria o curso.


Em outubro de 2014, saiu o resultado da PUC Minas. Meu lugar estava garantido. Eu já estava decidida que seria a melhor opção – independentemente de ENEM, ou de outros Vestibulares. Isso foi até novembro, quando tive o resultado da PUC Rio. E agora?! Passei nas duas, o que escolher: conforto ou aventura. O processo de escolha foi torturante. Chorei muito. Liguei para amigos, familiares, pessoas desconhecidas (sim!) para me trazerem alguma luz no fim do túnel – afinal, era uma escolha que poderia mudar muito meu rumo. Ao menos, eu acreditava nisso.


Agora, um ano depois, cá estou eu. Terminei meu primeiro ano de faculdade na PUC Rio. Entrei na faculdade sem saber, ao certo, o que escolhi, mas sabia que não era o conforto. Agora, entendo que escolhi oportunidades diferentes. Escolhi a cidade que é o segundo maior centro do país; onde tem vários eventos internacionais anuais; onde tenho várias oportunidades que não me limitam à universidade. Foi uma escolha em que eu pude me conhecer de uma forma diferente – foi onde achei que ser representante do período fosse uma oportunidade ótima de conhecer o outro lado da faculdade; foi onde achei que entrar na Empresa Junior da PUC fosse uma boa ideia e no meio da entrevista final perceber que aquilo nunca foi para mim; foi onde achei que a AIESEC seria uma ótima opção para voltar a fazer trabalho voluntário sem deixar de trazer algo diferente para a organização; foi onde achei que voluntariar nas Olimpíadas seria uma experiência enriquecedora; foi onde achei a mim mesma de maneiras diferentes.


Não me questiono muito sobre o que teria sido, se a minha escolha tivesse sido outra. Não me questiono muito sobre uma palestra que deixei de ver por uma conversa a mais com uma pessoa que conheci no Campus. Não me questiono sobre uma oportunidade que perdi por outra que ganhei. Questiono-me sobre o que eu quero fazer a partir de onde estou. A universidade me possibilitou conhecer outro universo. Possibilitou meus princípios de igualdade e humanidade ampliarem. O curso me possibilitou perceber que RI é mais do que negociações, línguas, conflitos. Relações Internacionais são pessoas, culturas, perspectivas. São desconstrução e questionamento. E eu estou grata por isso. Porque sei, agora, que não me limito a uma carreira, a um lugar. Eu posso chegar onde eu quiser, basta força de vontade. Acreditar. Fazer acontecer. Percebi, afinal, que a universidade é apenas uma bússola. O caminho, eu quem escolho. O importante, assim, é a bagagem que carrego na mente, e não nas mãos. E, sim, perder-se faz parte do caminho. O segredo é aproveitar a viagem.


Ps: Até hoje, eu não sei dizer ao certo o que é o curso de Relações Internacionais.



-- Depoimento de Carolina Franco (estudante de Relações Internacionais na PUC-RJ)

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